As constantes mudanças climáticas que têm marcado a safra de grãos 2023/24 no Brasil, e particularmente no Paraná, apontam para uma grande frustração na produção. Para discutir a situação, o Sistema Ocepar convocou nesta quinta-feira (18) uma reunião com o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, que falou sobre a necessidade de transparência nos números para que o mercado ajuste os preços e garanta renda aos produtores.
“O ano de 2023 foi de recuperação, de um belo reposicionamento da produção paranaense e brasileira, com mais de 33% de acréscimo ao parcialmente frustrado ano de 2022”, disse Ortigara. “Mas 2024 começou desafiador para todo mundo".
A atual safra sentiu problemas com as chuvas fortes de outubro e novembro de 2023. No entanto, as maiores dificuldades passaram a ser sentidas a partir de meados de dezembro, com estiagem e altas temperaturas. “Estamos em alto risco e ainda não está refletindo no mercado”, disse Ortigara. “Precisamos dar uma posição absolutamente clara e transparente aos mercados do mundo do tamanho do estrago na produção”.
A principal cultura do atual período é a soja. Nacionalmente, a última previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada em 10 de janeiro, é de 155,3 milhões de toneladas, redução de 4,2% em relação às 162 milhões de toneladas das primeiras projeções. “Mas possivelmente a safra tende a ser abaixo de 150 milhões de toneladas”, destacou Ortigara. “O quadro é absolutamente estressado climaticamente falando”.
No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral) deve divulgar a nova estimativa na próxima quinta-feira (25). No último levantamento, de 18 de dezembro, que não refletiu as perdas pela falta de chuva e temperaturas elevadas, a soja aparecia com 21,7 milhões de toneladas, uma redução de 0,9% em relação à projeção inicial de 21,9 milhões.
“Poderá se situar abaixo de 20 milhões”, avaliou o chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), da Seab, Marcelo Garrido. Pelo último relatório da situação da cultura no Estado, divulgado em 15 de janeiro, o Deral observou que 97% dos 5,8 milhões de hectares plantados ainda estavam no campo. Desse total, apenas 64% estavam classificados como em boas condições.
“Já há perdas consolidadas. O mercado está apreensivo, mas precisamos ter cautela, porque isso influencia no preço”, ponderou o técnico. “Nossas equipes estão a campo para os levantamentos e para divulgar as projeções de forma correta”.
DIÁLOGO – O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, destacou a importância do encontro, que reuniu aproximadamente 170 pessoas para uma interação entre as entidades. “Isso é muito importante para que a gente tenha a melhor informação possível, que traga uma segurança para o mercado e que os preços se ajustem”, afirmou.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller, disse que grandes desafios têm se colocado para a agropecuária brasileira. “Queremos um trabalho de diálogo e conversa com o setor para trazê-los de volta dentro do Ministério da Agricultura”, propôs.
Ele destacou que a pasta tem interesse em avançar na construção de armazéns, no fortalecimento de recursos de custeio e crédito, além de aquecer a aquisição de máquinas, com taxas de juros mais atrativas. “Temos que consolidar a garantia de preço mínimo e não vamos abrir mão de reorganizar o seguro agrícola e remodelar o Proagro”, destacou.
O evento contou também com explanação do meteorologista Luiz Renato Lazinski e de Étore Baroni, da StoneX Brasil, que falou sobre mercado e preços.
BOLETIM – A questão da produção mundial de soja para a safra 2023/24 também é assunto analisado no Boletim de Conjuntura Agropecuária referente à semana de 12 a 18 de janeiro. O documento do Deral aponta que, mesmo registrada perda significativa, isso não refletirá de forma crítica na disponibilidade da oleaginosa, além de os preços continuarem nos mesmos níveis. Na América do Sul, os principais produtores são Brasil, Argentina e Paraguai, representando aproximadamente 55% da produção mundial de soja, sendo o Brasil o maior produtor mundial.
O boletim também aborda outras culturas. Uma delas é o limão. Os limões – principalmente o Taiti e o Rosa/Cravo – proporcionaram 34,2 mil toneladas de frutos, girando uma massa financeira de R$ 55,5 milhões na produção de frutas do Paraná em 2022. Considerando a geração de um Valor Bruto da Produção de R$ 2,5 bilhões na fruticultura, os limões representam a décima fruta em movimentação de capital. O Núcleo Regional de Umuarama participa com 81,4% do VBP do setor mesmo respondendo por 59,4% da área.
Em relação ao trigo, o boletim informa que as importações nacionais reduziram em 27% em 2023. O número é referente à queda de volume de 5,7 milhões em 2022 para 4,2 milhões no ano que se encerrou, conforme dados do MDIC. A diminuição era esperada, em função da combinação de uma boa safra brasileira em 2022 com a baixa disponibilidade de trigo argentino resultante da seca. Para 2024 a expectativa é que as importações retomem o fluxo de 2022, em função da recuperação da safra da Argentina.
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