número de moradores de rua em Curitiba parece aumentar a cada dia. Sobretudo na região central, é cada vez mais comum ver pessoas vivendo sob marquises, pontos e terminais de ônibus. Para tentarem se livrar do problema, muitos prédios passaram a investir na instalação de pontas de ferro, grades, vasos e até encanamentos, que deixam o chão molhado, evitando que as pessoas fiquem ali.
O pedreiro Milton Alves Filho, que vive nas ruas da capital paranaense, diz que já levou um susto. "Eles esperam você deitar. Quando a gente deita, eles ligam aquela água. É um chuveiro", conta o homem, que se considera vítima de preconceito e humilhação. "Meu Deus do céu, que ser humano que é esse, que tem a coragem de por esses pregos, esses ferros, mandar instalar esses canos que são cheios de furos, para molhar o morador de rua?", questiona.
Por outro lado, quem mora ou trabalha em locais com concentração de pessoas em situação de rua, diz que o problema não reside apenas na quantidade de gente vivendo assim, mas também nas sensações de sujeira e violência que elas trazem.
Em um prédio da Avenida Sete de Setembro, por exemplo, um grupo acampou sob a marquise. Uma moradora da região, que preferiu não se identificar, diz que a situação está insustentável. "O que incomoda é a sujeira, que eles fazem as necessidades na porta do prédio, eles fazem as necessidades na porta da garagem", conta.
Ela diz que reconhece o direito dos moradores de rua. "Eles têm o direito de estar também onde eles querem. Mas eu, olha, eu também me sinto no direito de ir e vir, de sair, de ter segurança, então acho que isso é importante para todo mundo", avalia.
Uma comerciante da região diz que trabalha sempre com as portas trancadas, por segurança. "É uma segurança para a gente estar sempre trancada [a porta], até para os nossos clientes, quando vêm também. A gente sente sempre o cheiro de maconha, de álcool. Eles bebem bastante, fumam bastante", conta.
Para quem vive na cidade, o problema parece sem solução, nem planejamento do Poder Público. Nem o número de gente que mora nas vias públicas de Curitiba é conclusivo. Enquanto a Fundação de Ação Social (FAS) afirma que há cerca de 1,8 mil pessoas morando nas ruas da capital paranaense, a associação que representa os moradores de rua diz que são, pelo menos, 5 mil.
MP é contra equipamentos
O procurador do Ministério Público do Paraná, Olympio de Sá Sotto Maior, diz que a entidade é contra a instalação desse tipo de equipamento nas vias públicas, para a redução dos moradores de rua. "Não é possível se colocar nada na via pública que possa significar um obstáculo à permanência dessas pessoas, em um local que é público", afirma.
A Prefeitura de Curitiba também se posiciona contra os itens. A Fundação de Ação Social (FAS) diz que oferece uma série de serviços para essas pessoas. "Com certeza, não concordamos com isso, porque a nossa política de assistência social é uma política que prima pela dignidade humana, pelo respeito às pessoas", diz a assessora de planejamento da FAS, Roberta Borges Mello.
Ela afirma que a FAS está sempre próxima à comunidade que vive nas ruas, oferecendo ajuda quando necessário. "A equipe vai de manhã. Dependendo da situação, ela volta à tarde ou no dia seguinte... E novamente apresenta o cardápio de serviços que nós temos, tanto da política de assistência social, quanto as outras políticas que fazem parte dessa rede", conta. Veja mais...